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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

EI usou editorial de revista para convocar ataques contra cristãos no final de 2021

A revista oficial do Estado islâmico (EI), intitulada Al-Naba, publicou um editorial no último dia 30 de dezembro no qual convocava seus seguidores a atacarem os cristãos durante as festas de final de ano, transformando as celebrações em um período de “funerais e tragédias“. As informações são do site Memri, especializado em ações de grupos jihadistas.

“Todos os anos, os cristãos infiéis marcam o que afirmam ser o aniversário de Deus, o Messias, e [celebram] isso preenchendo o mundo com barulho, promiscuidade, adultério e loucura. Nós perguntamos: Deus poderia ter sido criado? Ele poderia ter sido crucificado e morto? Este deus inventado pode ser celebrado com adultério e rituais satânicos?”, diz o texto.

Insurgentes do Estado Islâmico no deserto de Homs, Síria (Foto: Reprodução/Observatório Sírio de Direitos Humanos)

O editorial afirma que o Cristianismo é politeísta e que a fé cristã é repleta de contradições e mentiras expostas pelo Alcorão, o livro sagrado do Islamismo. Também ataca os muçulmanos que aceitam o Natal e que até celebram a data, por estarem inseridos na cultura ocidental.

“Pessoas razoáveis ​​que se consideram muçulmanas ousam participar das [celebrações] cristãs para saudar os cristãos em seus festivais politeístas!”, diz o texto. “[Mas] os maiores criminosos são os pregadores [muçulmanos] do mal que permitem isso, alguns dos quais até consideram isso desejável ou obrigatório, quando os estudiosos islâmicos concordam que é proibido e alguns até decidiram que quem quer que faça isso é um apóstata”.

A revista chega, então, à convocação à violência: “É dever dos muçulmanos tratar os cristãos como os cristãos tratam os muçulmanos. Assim como eles despedaçaram os muçulmanos com seus ataques e bombardeios, devemos nos esforçar para transformar os feriados cristãos em funerais e tragédias. Devemos combatê-los por todos os meios durante seus feriados e festivais, pois isso é mais doloroso para eles”.

Papai Noel decapitado

Pouco antes do Natal, uma imagem atribuída ao EI, postada em um fórum virtual, mostrava um terrorista encapuzado segurando uma faca ensanguentada e decapitando o Papai Noel, personagem tradicional do Natal cristão em muitos países do Ocidente.

Havia, ainda, outras imagens atribuídas a grupos extremistas islâmicos fazendo referências violentas ao Natal. Numa delas, o Hezbollah, do Líbano, reproduziu o que seria uma árvore de Nata formada por rifles e capacetes de militares norte-americanos. Em outra, uma caixa de presentes grafada com o ano de 2022 vinha acompanhada da mensagem “uma tempestade de mísseis será a surpresa de ano novo”.

“Com o advento das chamadas celebrações politeístas que os incrédulos estão experimentando hoje em dia, enviamos uma mensagem aos nossos irmãos monoteístas na Europa, América, Austrália, Canadá, Rússia e outros países de descrença e apostasia: dizemos a vocês , nossos irmãos monoteístas, vinguem seus irmãos e irmãs que foram mortos e capturados por esses canalhas”, dizia o texto que acompanha a imagem do EI. “Ataque os cidadãos de países da coalizão de cruzados com suas facas, atropele-os nas ruas, detone bombas sobre eles e pulverize-os com balas”.

EI usou editorial de revista para convocar ataques contra cristãos no final de 2021

Por que isso importa?

Ações antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas do mundo, o Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Na tentativa de manter a relevância, as organizações jihadistas investem em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.

O EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.

Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.

Assim, o principal reduto tanto do EI quanto da Al-Qaeda tornou-se o continente africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global dessas duas organizações, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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