por Cristiane Noberto
“Este processo criminal não tem objetivo de revelar um crime, mas sim me impedir de ser um concorrente do atual presidente da Belarus”, afirma Viktor Babariko, principal opositor do presidente belarusso, Aleksander Lukashenko. Preso há nove meses, o banqueiro, acusado de evasão fiscal e lavagem de dinheiro, se manifestou em tribunal pela primeira vez nesta terça-feira (6), e negou todas as acusações.
No discurso, transcrito pelo portal “Mediazona Belarus”, Babariko alega que não havia nenhuma acusação contra si antes de decidir lançar sua candidatura à Presidência nas eleições de agosto de 2020. O banqueiro destaca motivação política por trás das denúncias para inviabilizar sua candidatura no pleito, que deu a sexta vitória ao atual mandatário.
Babariko e seu filho, Eduard, foram presos em junho de 2020 a caminho da Comissão Eleitoral Central, na capital Minsk, onde entregariam as assinaturas em apoio à sua nomeação para as eleições presidenciais. A equipe do então pré-candidato chegou a recolher 425 mil assinaturas em apoio à sua candidatura de oposição a Lukashenko, 325 mil a mais que a exigência da lei eleitoral.
Viktor Babariko era o nome com maior apoio popular às vésperas das eleições de agosto de 2020, permeadas de acusações de fraude, e que ensejaram protestos da oposição por todo o país.
Com o pré-candidato afastado da disputa, quem ganhou notoriedade no exterior como principal nome da oposição foi Svetlana Tikhanovskaya. A professora de inglês entrou na corrida presidencial em maio, após outra prisão: a do seu marido Sergei, ativista pró-democracia, dois dias após anunciar sua candidatura.
Julgamento e denúncia
A acusação aponta suposta influência de Babariko, enquanto presidente do Conselho do banco russo Belgazprombank, na criação de um esquema fraudulento para desvio de dinheiro. De acordo com a denúncia, o banqueiro realizou transações milionárias de janeiro de 2004 a junho de 2020, quando foi preso. Empresas, colegas de trabalho, subordinados e seu filho Eduard estariam envolvidos no suposto esquema.
O opositor defendeu que a própria regulação do setor bancário belarusso impossibilitaria desvios como os que ensejaram a acusação. “Há legislação nacional, controle interno sem participação do presidente, auditoria anual feita por empresas nacionais e internacionais, comissões de auditoria nomeadas pelos acionistas, comitê permanente do Conselho de Administração, responsável por revisar as auditorias, órgãos reguladores externos e externos e relatórios diários, além do curador da KGB [a agência de inteligência belarussa] vinculado a cada banco”, listou.
O banqueiro também afirmou que, nos últimos 20 anos, nenhuma violação foi detectada. “Nas classificações das empresas de auditoria nacionais e internacionais, o Gazprombank sempre foi classificado como um dos melhores”, enfatiza. Em janeiro de 2020, após extensa fiscalização, a autoridade reguladora teria detectado indícios de fraude, posteriormente descartada.
“As autoridades responsáveis por este inquérito, do meu ponto de vista, questionam o profissionalismo e a integridade do controle existente no sistema bancário da Belarus e do profissionalismo dos acionistas. Com base nisso gostaria de reiterar que nego essas acusações”, enfatiza.
O banqueiro ainda afirmou que o processo baseia-se apenas em testemunhos fornecidos no centro de prisão preventiva da KGB, e algumas acusações sequer foram lidas pelo tribunal. O caso é julgado pela Suprema Corte belarussa e terá um veredito sem espaço para recurso, informou a alemã Deutsche Welle.
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