A China não assinou a declaração que condenou o golpe em Mianmar e pediu a libertação dos detidos na reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, nesta terça (3).
Os militares tomaram o poder no último domingo (31) após alegarem fraude no pleito de 8 de novembro, que deu vitória ao partido de Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz de 1991.
Suu Kyi, opositora dos militares, e outros líderes foram presos após a instauração de estado de emergência, que dura a princípio um ano.
Assim como a Rússia, os diplomatas chineses afirmaram que precisavam enviar a declaração ao governo de seus países para “revisão”. Dessa forma, a declaração não foi emitida, uma vez que requer o apoio unânime dos 15 membros do Conselho.
Pouco depois, a agência estatal chinesa Xinhua noticiou uma “grande remodelação” do gabinete em Mianmar. Os militares destituíram 24 vice-ministros e indicaram outros nomes para 11 ministérios.
A Comissão Eleitoral do país também passará por “reforma” e o novo governo “revisará” os resultados das eleições de 2020.
Suu Kyi e outros líderes do partido NLD (Liga Nacional para a Democracia, em inglês) devem continuar presos até 15 de fevereiro por determinação do governo de Mianmar, informou nesta quarta-feira (3) a Associated Press.
A polícia do país diz ter identificado diversos walkie-talkies importados ilegalmente na casa da opositora. As acusações podem acarretar pena de dois anos de prisão. Os equipamentos pertencem aos guarda-costas de Suu Kyi, disse o NLD.
Desafio à comunidade internacional
O novo presidente dos EUA, Joe Biden, já classificou o golpe em Mianmar como um “ataque direto à transição democrática” e ameaçou sanções.
Ministros das Relações Extteriores de de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido pediram a libertação de Suu Kyi e dos demais líderes políticos nesta quarta (3).
O grupo ainda reivindica o fim do estado de emergência e a restauração do poder ao governo eleito. “Estamos ao lado de Mianmar para um futuro democrático”, diz o comunicado. A população birmanesa protestou contra o golpe nesta quarta-feira com um buzinaço nas ruas da capital Nayipidaw.
Antes do golpe, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) já havia expressado preocupação com as violações contra a minoria muçulmana rohingya, no estado birmanês de Rakhine.
O grupo pediu ao governo de Mianmar que não houvesse “nenhum novo uso excessivo de força militar” – desde 2017, 700 mil rohingyas já fugiram para Bangladesh após uma política deliberada de limpeza étnica por parte dos birmaneses, no que é hoje uma das maiores emergências humanitárias do mundo.
“O fracasso do Conselho em lidar com os terríveis abusos de Mianmar garantiu aos militares que poderiam fazer o que quisessem sem consequências”, disse o diretor da ONU (Organização das Nações Unidas) Louis Charbonneau à ONG Human Rights Watch.
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