A vacinação contra o novo coronavírus deve demorar e registrar atrasos sobretudo nos países de renda média, como o Brasil, e baixa, caso de partes da Ásia e África. A conclusão é de um relatório da The Economist Intelligence Unit, braço de análise de riscos da revista britânica homônima, divulgado nesta terça (9).
Os analistas estimam que, nas nações de renda média, a vacinação deve atravessar 2022 e, entre as mais pobres, durar até 2024 – se acontecer.
Além dos custos para importar ou fabricar as vacinas e estruturar programas nacionais, as nações mais pobres terão o desafio de conseguir doses em um mercado pautado, pelo menos nos próximos meses, por gigantesca escassez.
Enquanto alguns governos mais ricos encomendaram um número superior de doses ao de sua população, os mais pobres têm pouco espaço fiscal e poder de barganha, e terão de esperar o abastecimento ser concluído em outras partes até que a vacina chegue.
Das 12,5 bilhões de doses que devem ser produzidas ao longo de 2021 por laboratórios como AstraZeneca, Pfizer-BioNTech, Moderna, Bharat Biotech, Sinovac Biotech e Instituto Gamaleya, cerca de metade já tem dono.
O Canadá já adquiriu doses equivalentes a cinco vezes sua população. Outras nações com encomendas de vacinas superiores ao necessário estão EUA, membros da UE (União Europeia), Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Chile.
Já Israel, que lidera a vacinação em massa graças a um misto de população pequena, alta urbanização e digitalização abrangente do sistema de gestão de saúde nacional, pagou mais que o preço normal da dose ao laboratório Pfizer como forma de garantir seus imunizantes com rapidez.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu como um “fracasso moral” internacional a desigualdade na distribuição vacinas para as nações mais abastadas, ignorando aquelas em dificuldade.
Diplomacia e geopolítica
Também espera-se que países como a China, a Índia e a Rússia aprimorem sua estratégia da chamada “diplomacia das vacinas”, usando a oferta de imunizações feitas nesses países como ferramenta geopolítica.
Os três já iniciaram a vacinação doméstica e têm investido na exportação para países como o Egito, via acordos bilaterais, e o Brasil, com intermediação de laboratórios locais. Paquistão, Argélia, Nigéria, Turquia e México também devem receber vacinas desses países, segundo o diário britânico “Financial Times“.
O Nepal, encrustado entre a China e a Índia na Cordilheira do Himalaia, já recebeu imunização indiana. Já o Sri Lanka, nação insular no Índico, também está no meio de uma queda de braço geopolítica entre as duas potências asiáticas e receberá doses de ambos, apontou o jornal norte-americano “The New York Times“.
Nos países da Asean, a China ofereceu vacinas a países como Tailândia, Filipinas, Indonésia, Mianmar e Malásia, segundo a revista especializada em Ásia-Pacífico “The Diplomat“. Entre os principais fornecedores estão os laboratórios SinoVac Biotech, responsável pelas doses do Instituto Butantan, e o CanSino Biologics, além do Instituto Gamaleya, na Rússia.
O objetivo com as exportações é turbinar o status global dessas nações por meio de uma “abordagem transacional” na entrega dos imunizantes. Isso significa que as doses devem se tornar moeda de troca para garantir os interesses nacionais em países do exterior.
O “FT” observou, em análise, que “o Ocidente mal percebe a guerra das vacinas que acontece embaixo de seu nariz”.
Cronograma em aberto
Os países ricos e que já iniciaram seus programas de imunização, como os europeus, os EUA e o Reino Unido, devem completá-lo até meados de 2022, e espera-se uma razoável retomada econômica já a partir do terceiro trimestre deste ano.
O início da recuperação também é a aposta da EIU para países como a Rússia, que desenvolveu uma vacina própria, além de Brasil e México, que negociaram transferência de tecnologia para produção local dos imunizantes.
Nos latino-americanos, porém, o temor é o de que haja pouco espaço fiscal para investir em programas nacionais de vacinação, além de desafios como “infraestrutura, número de trabalhadores de saúde e vontade política”.
China e Índia, com populações de cerca de 1,3 bilhão cada, precisarão de mais tempo para vacinar a todos. A expectativa é a de que imunização nesses países chegue até o final de 2022.
Já os países de baixa renda dependem do consórcio COVAX, capitaneado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) responsável pela fabricação de seis bilhões de doses – distribuídas em uma proporção máxima de 20% da população local.
A estimativa mais otimista é a da vacinação estendendo-se até 2024, com a possibilidade de que uma parcela significativa dessas pessoas não tenha acesso a nenhuma dose.
No caso dessas nações, há diversos desafios para realizar a vacinação, além de comprar e receber as doses. Se a fabricação e entrega aos países ricos é adiada, os países mais pobres têm de esperar mais ainda para receber.
Quando os imunizantes chegam no país, o problema é conseguir profissionais de saúde, infraestrutura e refrigeração adequada para armazenar as vacinas.
A Síria, por exemplo, tem “prioridades mais urgentes” após dez anos de guerra civil e meio milhão de mortos. Já o Quirguistão, na Ásia Central, não tem um plano de vacinação pois sequer dispõe de infraestrutura para recebimento e distribuição.
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