A China Mobile, estatal de telecomunicações e a maior do mundo no setor, declarou publicamente apoio ao movimento OpenRAN, iniciativa que busca democratizar o acesso à internet com tecnologias abertas capazes de se conectar e interagir entre si. Segundo artigo do portal Telecoms, tal entusiasmo chinês com a nova arquitetura de rede gera desconfianças.
A declaração foi dada por Chih-Lin I, cientista-chefe de tecnologias sem fio da China Mobile, durante o Simpósio Digital OpenRAN da telecom norte-americana Light Reading. Ele também destacou a economia que a tecnologia deve trazer ao usuário.
“Acreditamos que no longo prazo ele fornecerá custos mais baixos para todo o ecossistema e maior eficiência. Com maior diversidade e flexibilidade, acreditamos que desfrutaremos de maior segurança em mais de uma maneira e poderemos desfrutar de inovação mais rápida”, prevê.
A China Mobile tem acesso privilegiado a dois dos principais players do mundo: Huawei e ZTE. Desde que os Estados Unidos endureceram as restrições aplicadas às licenças para novos equipamentos requeridas por empresas que possam ser vistas como um risco para a segurança nacional, como é o caso de ambas gigantes, elas se tornaram cada vez mais dedicadas ao maior lançamento de 5G do mundo na China.
O artigo questiona a previsão de Chih-Lin I quanto à redução de custos, se valendo do fato de que muito do ponto superficial da tecnologia é aumentar a competição do fornecedor no RAN, com a suposição de que isso irá reduzir os preços. O entendimento é de que há diversas razões pelas quais as leis de oferta e demanda podem não se aplicar neste caso, já que é necessário considerar a probabilidade de que haja gargalos competitivos nas cadeias de abastecimento de componentes e integração.
Afora as questões dos benefícios ao consumidor, se o OpenRAN se mostrar também benéfico aos operadores – algo que ainda não foi demonstrado de forma conclusiva – então é evidente que o líder global do setor vai querer abocanhar uma fatia da ação. Embora a China pareça ter feito retaliações à Suécia, marginalizando a Ericsson do lançamento doméstico do 5G, não parece haver nenhuma sanção atualmente em vigor que impeça a China Mobile de comprar kits da Intel, Mavenir ou outras empresas americanas.
Já a Huawei, até agora, sequer fingiu adotar a tecnologia de redes móveis abertas e, ao que consta, parece cética sobre o movimento. “Não sabemos até que ponto a China Mobile está tendo suas escolhas de fornecedores ditadas pelo Estado chinês, mas é difícil imaginar muito entusiasmo político local pelo OpenRAN”, avalia o texto.
Desconfiança
A Huawei tem enfrentado uma crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Reino Unido já baniram a infraestrutura da fabricante em seu território por medo de que a China pudesse usá-la para espionagem.
No 5G, que tornou-se ferramenta de pressão geopolítica, os riscos de segurança são mais elevados. Isso porque a nova tecnologia incorpora softwares responsáveis por um processamento dos dados pessoais dos clientes e outras informações confidenciais.
A decisão de utilizar ou não a Huawei nas redes móveis põe a Europa no fogo cruzado da intensa pressão dos Estados Unidos para banir o grupo. Washington alega potencial de vazamento de dados e outras brechas de segurança em benefício do governo chinês.
Por que isso importa?
OpenRAN é um movimento nascido em 2017 que busca democratizar o acesso ao mundo digital e representaria, por meio de um intercâmbio operacional de equipamentos – como torres e antenas de transmissão compartilhadas – uma libertação em relação aos gigantes estrangeiros do setor.
O futuro das redes de internet está nas redes 5G e no OpenRAN. Resumidamente, o 5G é como uma porta que dá acesso a múltiplas novas tecnologias, que precisarão de uma conexão de alta velocidade. Já o OpenRAN é como a chave para abri-la e ainda democratizar a acessibilidade.
O propósito da tecnologia é desagregar os protocolos e interfaces conhecidos para uma nova estrutura que não dependa apenas das torres e antenas das bases de rádio conhecidas – também chamadas de “caixas fechadas” por terem tecnologias próprias, ou seja, que não se comunicam com outros provedores.
A padronização e a abertura desses códigos visam inovar e acelerar ainda mais a implementação e alcance do 5G.FacebookTwitter
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