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quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Coreia do Norte executou pelo menos sete pessoas por consumirem vídeos de K-pop

Pelo menos sete pessoas foram executadas em público na Coreia do Norte na última década por distribuírem ou assistirem a vídeos de K-pop, gênero musical sul-coreano classificado pelo autoritário líder Kim Jong-un como um “câncer vicioso”. A denúncia foi feita nesta quarta-feira (15) pelo grupo de direitos humanos Transitional Justice Working Group, com sede em Seul, informou o jornal The New York Times.

A ONG entrevistou 683 refugiados norte-coreanos desde 2015 para mapear locais onde as execuções coordenadas pelo regime de Kim ocorreram, bem como onde as vítimas foram enterradas. O relatório aponta que 23 dessas mortes ocorreram durante seu governo, que nesta semana completa dez anos desde a morte de seu pai e antecessor Kim Jong Il, falecido em 17 de dezembro de 2011.

Nesse período, Kim Jong-un tem atacado impiedosamente o entretenimento sul-coreano, incluindo, além das músicas, filmes e seriados de TV – entre eles o sucesso global ‘Round 6’, que chega a abordar o drama dos desertores. Segundo o líder do Norte, as produções do Sul “corrompem as mentes dos norte-coreanos”. Em dezembro do ano passado foi aprovada uma lei que prevê até pena de morte a quem divulgar material relacionado à cultura pop do país vizinho.

Grupo Red Velvet durante apresentação no Incheon Hallyu K-pop Concert (Foto: WikiCommons)

A equipe da ONG concentrou-se em investigar execuções na cidade de Heysan, um centro comercial na fronteira com a China tido como a principal porta de entrada para informações externas. Principalmente o entretenimento sul-coreano, que chega armazenado em pen drives pirateados.

De acordo com o Daily NK, um site jornalístico que reúne notícias de fontes clandestinas da Coreia do Norte, entre as vítimas recentes estão um aldeão e um oficial do exército, executados publicamente neste ano em localidades do recôndito do país.

Kim já teve momentos de flexibilidade em relação à cultura estrangeira, liberando a música tema do filme ‘Rocky’ na televisão estatal, por exemplo. Em 2018 ele até convidou as estrelas do Red Velvet, grupo formado só por meninas, para uma visita à capital, Pyongyang, período em que esteve envolto em gestos diplomáticos com o presidente da Coreia do Sul,

Moon Jae-in. Mas a repressão voltou com tudo já no ano seguinte, quando suas conversas com o presidente Donald Trump fracassaram e a economia de seu país entrou em recessão.

A cultura pop da Coreia do Sul é descrita como uma invasão de influências “antissocialistas e não socialistas”, que pode fazer a Coreia do Norte “desmoronar como uma parede úmida”, caso não seja controlada. O regime de Kim reprime até mesmo as gírias sul-coreanas disseminadas entre os jovens, incluindo “oppa”, expressão que ganhou fama global pelo vídeo ‘Gangnam Style’, do rapper Psy.

Por que isso importa?

Kim Jong-un assumiu o poder em 2011, aos 28 anos. As especulações sobre a capacidade do jovem ditador em manter a estabilidade do regime logo foram afastadas com a sua consolidação no poder. Ele foi rápido em instalar sua própria equipe de correligionários, revigorar o partido como órgão político central e recuperar o poder das facções de elite que, até então, haviam conquistado uma autoridade delegada por Kim Jong-il.

Os expurgos foram efetivos devido à opacidade informativa. Pouco se sabe de casos brutais, como a execução de Jang Song-thaek, em 2013, e do ex-ministro de Defesa Hyon Yong-chol, em 2015. Outros casos menos graves envolvem aposentadoria ou desaparecimentos forçados.

A própria vida pessoal de Kim Jong-un é um mistério. Acredita-se que o ditador tenha três filhos com a esposa Ri Sol-ju – vista raramente. Sequer se sabe o sexo do filho caçula, que tem um irmão e uma irmã mais velhos. Raras evidências apontam ainda que Kim sofre de problemas médicos, como diabetes e gota, devido à obesidade e ao tabagismo.

Especialistas apontam que, no caso de morte, quem deve suceder o poder é sua irmã mais nova, Kim Yo-jong. Nos últimos anos, a mulher de 34 anos sentou ao lado do irmão em cúpulas com o ex-presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping e fez declarações sobre o aumento de tensões entre os EUA e Pyongyang em junho de 2020.

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