Militantes do Taleban teriam feito disparos de alerta contra um grupo de mulheres que protestava em Cabul contra a repressão de gênero, nesta terça-feira (28). A manifestação ocorreu poucos dias após a organização islâmica que controla o Afeganistão ter anunciando restrições que impedem mulheres de viajarem sozinhas, informou a Radio Free Europe.
Entre as manifestantes estava Tamna Siddiqui, que relatou o uso de violência por parte dos jihadistas para desfazer a aglomeração. A ação teria ferido diversas mulheres que gritavam as palavras “trabalho, pão e liberdade” e carregavam faixas com os dizeres “Estamos cansadas de discriminação” e “Somos a voz de pessoas famintas”.
A agência local de notícias Asvaka relatou que o incidente ocorreu perto do hospital da organização humanitária italiana Emergency, mas não deu informações sobre número de vítimas ou feridos.
As manifestações vêm na esteira das medidas anunciadas pelo Taleban no domingo (26), que proíbem as mulheres de viajarem longas distâncias sem que estejam acompanhadas por um homem da família. A determinação, que veio junto de um pacote linha-dura de novas regras do regime extremista, é o mais recente episódio da opressão imposta pelo Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício às afegãs.
Canais de televisão afegãos transmitiram imagens do protesto:
Dozens of women protested in Kabul on Tuesday in reaction to “discrimination and social injustice against women.”#TOLOnews pic.twitter.com/jYxFsnawmM
— TOLOnews (@TOLOnews) December 28, 2021
Os talibãs, que após a tomada do poder central, em agosto, prometeram maior abertura e respeito à liberdade de expressão, têm escancarado suas contradições. O Ministério de Assuntos da Mulher do antigo governo foi fechado, o que restringiu expressivamente os direitos das mulheres. A maioria foi proibida de trabalhar e teve vetado o direito à educação.
De acordo com a rede Voice of America (VOA), o governo permitiu que estudantes voltassem às aulas, mas meninas que residem em muitas províncias afegãs ainda aguardam permissão para fazê-lo, enquanto a maioria das mulheres foi impedida de voltar ao trabalho.
“As mulheres não podem viajar sozinhas ou ir a escolas e faculdades. Esse tipo de pensamento retrógrado é perigoso”, comentou nesta segunda-feira (27) o ministro da Informação do Paquistão, Fawad Chaudhry, em uma rara repreensão ao Taleban vinda do país vizinho.
Por que isso importa?
Entre as imposições dos talibãs às mulheres que voltaram a viger no Afeganistão estão a proibição de saírem de casa desacompanhadas, o veto à educação em escolas e ao trabalho e inúmeros casos de mulheres solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.
Quem não cumpre as regras sofre com as consequências. As punições incluem espancamentos públicos, um antigo meio de repressão dos fundamentalistas.
Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em certas regiões, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.
A repressão se estende à educação. O Taleban não só proibiu as mulheres de estudarem como fechou escolas no país. Em certas áreas dominadas pelos extremistas, a educação foi permitida para meninas somente até a quarta série.
Numa decisão que atinge também os homens, o Taleban determinou que apresentações de música ao vivo estão proibidas no país.
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