Um novo estudo da ONU (Organização das Nações Unidas) revela que a América Latina e o Caribe podem ser tornar campeões mundiais de casos de casamento infantil em menos de dez anos, se não houver investimentos e ações para combater o problema.
Casamentos infantis, uniões maritais precoces e forçadas são uma realidade na região e uma prática prejudicial a meninas e adolescentes, segundo publicação assinada por várias agências da ONU. Trata-se de uma violação dos direitos humanos das crianças, meninas e adolescentes e afeta de forma desproporcional e persistente as meninas, atesta o documento.
A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) afirma que a meta de erradicar o casamento infantil é fundamental para alcançar o desenvolvimento sustentável e a igualdade de gênero na região. Uma em cada quatro meninas e adolescentes latino-americanas e caribenhas se casou pela primeira vez ou tinha uma relação marital antes dos 18 anos.
Sem investimentos para combater o problema, a região fica atrás apenas da África Subsaariana, segundo o documento Matrimônios e Uniões Infantis, Precoces e Forçadas. Na Jamaica, por exemplo, a taxa de casamentos infantis é de 10%. Já em países como República Dominicana, Nicarágua, Honduras e Belize, este número ultrapassa 30%. As Nações Unidas acreditam que a falta de dados indica que as taxas podem ser ainda mais altas.
Nove países da América Latina e do Caribe proíbem o casamento de crianças, com base nos padrões internacionais. O último a se juntar à lista foi a República Dominicana, em janeiro deste ano. Porém, outros 13 países permitem o matrimônio de menores a partir de 16 anos de idade com autorização dos pais, representantes legais ou um juiz. Em seis países, crianças menores de 16 anos podem se casar por motivos qualificados no documento.
Pesquisas indicam que as meninas nessa condição têm seu futuro impactado de forma negativa, e a divisão sexual do trabalho é reproduzida desde muito cedo.
Meninas e adolescentes casadas antes dos 18 anos também têm o dobro do tempo dedicado a trabalho não remunerado, incluindo tarefas domésticas e outros cuidados, se comparado a meninos e adolescentes casados na mesma idade. Em alguns casos, a diferença na carga horária pode quintuplicar (Equador e Guatemala) ou ser oito vezes maior como na República Dominicana.
Em países com informação disponível, meninas e adolescentes casadas passam 40 horas semanais trabalhando em casa. Entre eles: Colômbia, Guatemala e México.
Outro problema dos casamentos precoces é a gravidez na adolescência. Muitas meninas deram à luz uma criança antes de completarem 18 anos. Mais de 80% foram mãe antes dos 20 anos, e a maioria dessas gestações não foi desejada.
O estudo da ONU indica que alguns programas e iniciativas públicos são insuficientes mediante a gravidade e as consequências da prática. Mesmo assim, existem alguns avanços em países com políticas públicas adequadas.
Dentre as medidas recomendadas pela pesquisa estão o acesso de meninas e adolescentes à educação gratuita, universal e com um forte elemento de gênero, sem qualquer discriminação. A ONU recomenda ainda que as meninas participem da formulação de políticas e que suas experiências e propostas possam ser parte da solução.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News
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