Olaf Scholz, o novo chanceler alemão, tem sofrido pressão de outros líderes políticos da União Europeia (UE) para incluir o gasoduto russo Nord Stream 2 no pacote de medidas drásticas a serem adotadas contra Moscou em caso de uma invasão militar da Ucrânia pela Rússia. As informações são do jornal britânico The Guardian.
Estados Unidos e UE têm debatido possíveis sanções econômicas severas a serem aplicadas contra Moscou em caso de um ataque ao vizinho. O gasoduto, que conecta a Rússia à Alemanha contornando a Ucrânia, já está com as obras concluídas, mas não começou a operar por falta de certificação. E pode virar uma importante arma para pressionar o Kremlin.
Nesta quinta-feira (16), o órgão regulador de energia da Alemanha afirmou que apenas no segundo semestre de 2022 anunciará sua decisão quanto à certificação do gasoduto. Para os líderes da UE, porém, isso não basta. Na cúpula do bloco, que ocorre em Bruxelas e marca a estreia de Scholz, foi sugerido que ele ameaçasse encerrar definitivamente o projeto em caso de agressão russa.
“Seria importante que também pudéssemos decidir que o Nord Stream 2 está sobre a mesa. Que, se houver atividade militar intensificada, este projeto será encerrado”, disse o primeiro-ministro da Letônia Arturs Krisjanis Karins
Karins acusa a própria Rússia de usar o gás como arma contra o bloco, em meio a uma escassez que fez os preços do combustível subirem drasticamente no continente. Segundo ele, o presidente russo Vladimir Putin faz “uma espécie de chantagem contra a UE, afirmando falsamente que, se quisermos ter mais gás, devemos abrir o Nord Stream 2”.
A Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês) chegou a pedir à Rússia que enviasse mais gás à Europa, de forma a aliviar a escassez do produto, problema que já fez os preços dispararem mais de 250% desde janeiro. O posicionamento foi interpretado como uma incomum repreensão ao Kremlin, corroborando a narrativa de que Moscou teria responsabilidade na crise energética no continente.
Rússia x Ucrânia
Ao fim da cúpula da UE, é esperado que os 27 chefes de Estado e de governo do bloco divulguem um comunicado para esclarecer quais seriam os “custos enormes e severos” que ameaçam impor em caso de invasão, num momento em que Moscou tem centenas de milhares de tropas na fronteira com a Ucrânia prontas para um ataque.
A tensão entre os dois países explodiu com a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014. Paralelamente, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia. O conflito armado em Donbass, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que contam com suporte militar russo.
Em 2021, as tensões escalaram na fronteira. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na área e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, pela Crimeia e por Belarus. Pouco dispostos a agir militarmente contra Moscou, EUA e UE têm apostado em sanções econômicas para dissuadir Putin de invadir a Ucrânia.
Por que isso importa?
O Nord Stream 2 foi projetado para fornecer gás russo diretamente para a Alemanha através do Mar Báltico, contornando a Ucrânia e a Polônia. Apesar da necessidade europeia de ampliar urgentemente a oferta de gás natural em meio à crise do setor, a obra divide opiniões, com os Estados Unidos encabeçando a oposição.
Os críticos sustentam que o novo gasoduto não é compatível com as metas climáticas europeias, acentua a dependência das exportações russas de energia e potencialmente aumentará a influência exercida pelo presidente Vladimir Putin na região. Já a Rússia e Alemanha defendem a iniciativa como “puramente comercial”, uma forma de atender à crescente demanda por gás no continente.
Por sua vez, Yuriy Vitrenko, CEO da Naftogaz, maior empresa ucraniana de petróleo e gás, acusa a russa Gazprom, que lidera o grupo de investidores do Nord Stream 2, de deliberadamente reter o gás que poderia ir para a Europa, além de bloquear o acesso ao sistema de transporte de gás de outras empresas russas.
A Ucrânia, em particular, contesta a obra e a trata como uma reprimenda política, porque o gasoduto contorna o país e, assim, tira de Kiev os milhões de euros que fatura anualmente como intermediária do fornecimento.
O gasoduto, cuja obra foi concluída em setembro deste ano, integra a estrutura do Nord Stream 1, em operação desde 2011, e é responsável pelo abastecimento de 40% do gás natural consumido pelos alemães. Em funcionamento, o Nord Stream 2 adicionará 55 bilhões de metros cúbicos de suprimento de gás por ano, ou cerca de 11% do consumo total anual da UE – em 2019, os 27 países do bloco usaram 469 bilhões de metros cúbicos.
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