O impacto combinado das mudanças climáticas globais com a pesca excessiva por parte de navios pesqueiros chineses pode levar ao colapso do setor pesqueiro na China e em países vizinhos nos próximos anos. É o que indica um estudo realizado em parceria pela Universidade de British Columbia (UBC), nos Estados Unidos, e pela ADM Capital Foundation, entidade que analisa questões ambientais e sociais na Ásia.
Com a projeção do aumento médio da temperatura global acima de 2º C até 2050, além da pesca indiscriminada na região, é “provável que o Mar da China Meridional experimente declínios significativos em espécies comerciais importantes de peixes e invertebrados, colocando muitas economias pesqueiras regionais em risco de falência devastadora”, diz o relatório fruto do estudo.
O Mar da China Meridional e o Mar da China Oriental são as duas áreas pesqueiras mais importantes no Pacífico Ocidental, em termos de produtividade e valor econômico, com um comércio combinado avaliado em aproximadamente US$ 100 bilhões.
“Partes dessas áreas marinhas sofreram um aquecimento dez vezes maior que a média global, enquanto estão sujeitas ainda a décadas de pesca excessiva. Muitas espécies comercialmente importantes, como cavala ou grande corvina amarela, são atualmente classificadas como excessivamente explorada”, diz o documento.
O que ajuda a explicar o aumento da pesca na região é o crescimento do setor de aquicultura, o que levou muitos pesqueiros a optarem pela quantidade em vez da qualidade. Isso porque os peixes marinhos não são necessariamente destinados à venda, e sim usados para fabricar a ração para os peixes criados em cativeiro.
Perdas bilionárias
De acordo com o estudo, o cenário de mudanças climáticas severas pode levar a uma perda de receitas de mais de US$ 10 bilhões anuais no setor de pesca no Mar da China Meridional. Em comparação, projeta-se uma perda de algo entre US$ 3 bilhões e US$ 7 bilhões em um cenário de mudança climática amena, equivalente a 1º C no aquecimento global em meados do século.
No caso do Mar da China Oriental, se a pesca indiscriminada mantiver o nível atual, espera-se uma redução de 90% nas espécies de peixes mais importantes para a pesca comercial no final deste século. O que levaria a uma perda anual de receita na casa dos US$ 11,5 bilhões.
A análise foca especificamente em espécies de frutos do mar que são valiosas para Hong Kong, onde 95% dos frutos do mar consumidos são importados, e o valor anual das importações está entre os mais altos do mundo. “Em certos cenários de mudança climática, as espécies de frutos do mar que são os pilares do mercado de frutos do mar de Hong Kong, como garoupas e douradas, poderiam ser reduzidas a uma fração de sua população atual até o final do século. Isso se não forem totalmente extintas”, diz Rashid Sumaila, professor da UBC.
Por que isso importa?
Os pesqueiros chineses são responsáveis pela maior fatia de pesca IUU (ilegal, não declarada e não regulamentada, da sigla em inglês) em todo o mundo. Enquanto Beijing diz ter cerca de 2,6 mil navios pesqueiros no mundo, especialistas do britânico Overseas Development Institute estimam a frota chinesa em 17 mil.
O alerta de diversos governos ao redor do mundo para o avanço das milícias da China em águas internacionais está ancorado em uma prática recorrente de navios pesqueiros chineses que ganhou contornos globais. Primeiro, os navios se afastam das águas nacionais. Já fora da jurisdição, desligam o sistema de rastreamento por satélite e invadem mares proibidos sem serem detectados, uma prática proibida pelas leis internacionais.
A delimitação marítima começou em 1982, na Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o Direito do Mar. À época, os Estados-Membros concordaram em controlar os recursos marítimos dentro de uma ZEE (zona econômica especial) de até 200 milhas marítimas. Além desse raio, são águas internacionais.
Acusadas de pesca ilegal, as embarcações com bandeiras da China não só geram uma crise ambiental, como desafiam as fronteiras geopolíticas. A ilegalidade leva a perdas econômicas dos governos e compromete a subsistência dos pescadores nativos e das empresas da cadeia de abastecimento de pescado locais. É uma equação simples: sem essa fonte de renda, as regiões atingidas sofrem com o aumento da pobreza.
Os países menos desenvolvidos são mais vulneráveis, devido à falta de recursos para combater e monitorar a pesca de forma eficaz.
Estima-se que 24% das capturas marinhas do Oceano Pacífico não são declaradas a cada ano. Destes, 50% são comercializados ilegalmente, causando de US$ 4,3 bilhões a US$ 8,3 bilhões em perdas de receitas diretas.
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