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quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Número de jornalistas presos chega ao maior nível desde 1995, denuncia ONG

O contingente de jornalistas presos durante o exercício da profissão chegou neste ano ao seu maior patamar desde 1995, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Relatório anual da entidade registra um total de 488 profissionais de imprensa sob custódia em dezembro de 2021, quantidade que representa 20% a mais do que no mesmo período em 2020.

O aumento de detenções está diretamente ligada a três países com histórico de repressão estatal: Mianmar, onde uma junta militar aplicou um golpe de Estado em fevereiro; Belarus, onde a categoria passou a ser ainda mais perseguida após a controversa reeleição de Alexander Lukashenko em 2020; e a China, especialmente no território semiautônomo de Hong Kong, onde uma Lei de Segurança Nacional entrou em vigor coibindo a liberdade de imprensa na cidade que outrora foi exemplo de respeito ao jornalismo.

Segundo a RSF, 2021 também trouxe um recorde negativo em relação a mulheres jornalistas. Hoje, estão presas 60 profissionais, 33% a mais que em 2020. A China lidera pelo quinto ano consecutivo como o país que mais jogou jornalistas do sexo feminino no cárcere, com 19 detidas atualmente. Entre elas, a chinesa Zhang Zhan, condenada a quatro anos de prisão após noticiar os primeiros estágios da pandemia de Covid-19 em Wuhan e que está gravemente doente.

Jimmy Lai, magnata chinês da imprensa, uma principais figuras ligadas ao movimento pró-democracia de Hong Kong (Foto: WikiCommons)

Belarus tem mais mulheres jornalistas (17) aprisionadas do que homens (15). Duas são repórteres do canal de TV independente Belsat, sediado na Polônia e co-financiado pelo Ministério de Relações Exteriores local: Daria Chultsova e Katsiaryna Andreyeva. Ambas foram condenadas a dois anos em um campo de detenção após cobrirem ao vivo uma manifestação não autorizada pelo governo.

Já em Mianmar, dos 53 jornalistas e profissionais da mídia detidos, nove são mulheres.

Para o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, o alto número de jornalistas presos de forma arbitrária é obra das perseguições à classe nesses três regimes ditatoriais e articulações políticas para os líderes se manterem impunes.

“É um reflexo do reforço do poder ditatorial em todo o mundo, um acúmulo de crises e a falta de escrúpulos por parte desses regimes. Também pode ser o resultado de novas relações de poder geopolítico em que os regimes autoritários não estão sendo submetidos a pressão suficiente para conter suas repressões”, observa.

Mortes em queda

Um dado levantado pela RSF é positivo: houve

queda no número de jornalistas mortos em conexão com seu trabalho. Foram 46 óbitos de 1º de janeiro a 1º de dezembro de 2021 – somente 2003 registrou menos de 50 profissionais da imprensa que perderam a vida trabalhando. A redução pode ser atribuída à redução dos conflitos na Síria, Iraque e Iêmen, além de campanhas coordenadas por organizações de liberdade de imprensa (entre elas a RSF) e da implementação de programas internacionais e nacionais direcionados à proteção dos repórteres.

Mas, mesmo com a melhora no quadro, a média de jornalistas mortos ainda é alta: pelo menos um morre por semana no mundo enquanto trabalha. Segundo a RSF, neste ano, 65% do total foi deliberadamente executada. Os países que lideraram essa estatística mortal são, novamente, México (7) e Afeganistão (6). Iêmen e Índia dividem o terceiro lugar, com quatro jornalistas mortos em cada país.

O balanço de 2021 também destaca outros dados: a sentença mais longa, 15 anos, aplicada a Ali Aboluhom, na Arábia Saudita, e a Pham Chi Dung, no Vietnã; os julgamentos mais longos e “kafkanianos”, infligidos a Amadou Vamoulké, Camarões, e a Ali Anouzla, no Marrocos; os jornalistas em cárcere mais velhos, Jimmy Lai, em Hong Kong, e Kayvan Samimi Behbahani no Irã, respectivamente 74 e 73 anos; e o jornalista francês Olivier Dubois como o único jornalista estrangeiro raptado neste ano, mantido como refém no Mali desde 8 de abril.

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