Mais de 700 mil crianças foram afetadas pelo fechamento de escolas devido à violência em Camarões, de acordo com uma análise divulgada pelo braço humanitário do OCHA , o escritório para coordenação de assuntos humanitários da ONU (Organização das Nações Unidas). Duas em cada três escolas estão fechadas nas regiões Noroeste e Sudoeste do país.
Um recente bloqueio imposto por um grupo armado não estatal, de 15 de setembro a 2 de outubro, limitou o acesso aos serviços básicos, incluindo saúde e educação.
No dia 24 de novembro, homens armados atacaram uma escola bilíngue e mataram cinco pessoas, sendo quatro estudantes e uma professora de francês, na cidade de Ekondo Titi, província Sudoeste. Oito alunos também foram sequestrados, e os dedos de uma menina foram decepados porque ela tentou ir à escola. Cinco diretores de escolas públicas também foram sequestrados, e um deles foi morto.
Todas as escolas e espaços comunitários de aprendizagem foram fechados desde então, exceto algumas escolas em áreas urbanas que operaram com menos de 60% da capacidade.
O bloqueio e a insegurança também forçaram as agências da ONU e organizações de ajuda a temporariamente suspenderem a entrega de ajuda. Durante esse período, cerca de 200 mil pessoas não receberam alimentos.
Nove em cada dez regiões do país continuam a ser afetadas por uma das três crises humanitárias: a crise do Noroeste e do Sudoeste, o conflito no Extremo Norte e a crise de refugiados, com pessoas fugindo da República Centro-Africana. Por causa dessas crises combinadas, mais de um milhão de crianças precisam de apoio educacional urgente.
Para atender a algumas dessas necessidades, o Education Cannot Wait (Educação Não Pode Esperar, da sigla em inglês ECW), fundo global da ONU para educação em emergências e crises, está trabalhando em estreita colaboração com agências da ONU, o Conselho Norueguês para Refugiados e outros parceiros da sociedade civil.
A ECW contribuiu com US$ 25 milhões ao longo de três anos e convoca outros doadores para preencherem a lacuna, que é estimada em US$ 50 milhões. Quando totalmente financiado, o programa proporcionará a aproximadamente 250 mil crianças e adolescentes acesso a ambientes de aprendizagem seguros nas áreas mais afetadas.
Ainda nesta semana, o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados, Jan Egeland, e a diretora do ECW Yasmine Sherif fizeram uma visita conjunta ao país. Em um comunicado, Sherif disse que a situação “está entre as crises humanitárias mais complexas do mundo hoje”.
“Crianças e jovens estão tendo que fugir de suas casas e escolas, são ameaçados de violência e sequestros, sendo forçados a casar na infância e recrutados para grupos armados”, disse Sherif.
Jan Egeland argumentou que “colocar uma mochila escolar nas costas não deve torná-lo um alvo”. Mas, infelizmente, as crianças em Camarões “arriscam suas vidas todos os dias apenas aparecendo para a escola”, segundo ela. “A emergência educacional em Camarões precisa de atenção internacional, não de um silêncio mortal por parte do mundo exterior”.
Por que isso importa?
A crise em Camarões começou em 2016, quando professores e advogados tomaram as ruas para protestar contra o domínio do francês nos tribunais e nas escolas de língua inglesa. A greve ganhou corpo rapidamente, e em novembro uma boa parte da população já pedia por reformas políticas. De lá para cá, a barreira do idioma separou o país de 25 milhões de habitantes.
Os grupos separatistas anglófonos ganharam força, e a violência teve escalada rápida mesmo com a pandemia de Cvid-19. Os conflitos se concentram nas províncias Noroeste e Sudoeste, com acusações mútuas de assassinatos de civis. Mais de 3,5 mil pessoas morreram desde então, e ao menos 700 mil foram forçadas a deixar suas casas.
O Ministério da Defesa acusa “a existência de ligações e trocas de armamentos sofisticados” entre “terroristas separatistas” e “outras entidades terroristas que operam além das fronteiras”, incluindo grupos extremistas islâmicos.
Sem sucesso nas tentativas de firmar um acordo de paz com os combatentes, o presidente Paul Biya, há 38 anos no poder, já pediu ajuda à União Europeia (UE) e aos Estados Unidos.
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