O trabalho do agricultor, do operário da construção civil e de outros profissionais que ganham a vida ao ar livre pode se tornar impraticável em tardes escaldantes no mundo inteiro. O alerta foi dado em um estudo financiado pela Nasa, agência espacial norte-americana, e publicado nesta terça-feira (14) pela revista Nature Communications, que concluiu que o agravamento do aquecimento global pode tornar impossível trabalhar com segurança, informou o portal ambiental Business Green.
Na análise dos cientistas, a produtividade deve ser severamente impactada pelos termômetros em alta e o aumento da umidade, fatores potencializados pela mudança climática. Em termos econômicos, isso representaria um custo de US$ 1,6 trilhão anual com as horas de expediente comprometidas ou realocadas para horários mais amenos, considerando a hipótese de que o aumento da temperatura média dos oceanos e das emissões de gases eleve o clima em 3º C.
Uma estimativa atual projeta que cerca de US$ 280 bilhões a US$ 311 bilhões sejam perdidos anualmente pela exposição de trabalhadores a condições extremas de calor e umidade. De acordo com o estudo financiado pela Nasa, no caso de um acréscimo de 2º C das temperaturas médias globais em relação ao presente, “as perdas de trabalho na metade mais fria do dia podem exceder as perdas atuais na metade mais quente”.
Os mais prejudicados com as mudanças climáticas devem ser os países emergentes situados em regiões tropicais e subtropicais, que têm suas economias em desenvolvimento e, por isso, maior contingente de trabalhadores na rua – especialmente no comércio. O estudo prevê fortes impactos na Ásia, Oriente Médio, África e Pacífico Ocidental.
Entre os países em que os cientistas preveem maior prejuízo estão Índia, China, Paquistão e Indonésia, onde gigantescas fatias populacionais têm suas atividades profissionais ao ar livre. Também foram destacados 14 outras nações de menor porte que podem perdas per capita maiores, incluindo Bangladesh, Tailândia, Gâmbia, Senegal, Camboja, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Qatar, Brunei Darussalam, Gana, Togo, Benin, Sri Lanka e Nauru.
Na opinião do cientista que liderou o estudo Luke Parsons, pesquisador do clima da Escola de Meio Ambiente Nicholas da Duke University, muitos dos países e pessoas mais afetadas pelas perdas de trabalho atuais e futuras não têm nenhuma culpa pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa.
“Muitos trabalhadores nos trópicos já param de trabalhar à tarde porque está muito calor”, contextualiza
Parsons. “Felizmente, cerca de 30% dessa atividade perdida ainda pode ser recuperado movendo-o para o início da manhã. Mas com cada grau adicional de aquecimento global, a capacidade dos trabalhadores de se adaptarem dessa forma diminuirá rapidamente, mesmo nas horas mais frias do dia. Rapidamente fica muito quente para o trabalho contínuo ao ar livre”, pondera.O estudo vem na esteira de dois relatórios separados sobre alarmantes novos registros climáticos. Uma delas foi divulgada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que confirmou a marca histórica de 38
ºC na Sibéria no verão de 2020, nível que representa uma nova alta para o Círculo Polar Ártico. Outra foi trazida por uma equipe de cientistas ligados à ONG American Geophysical Unionque, que alertou sobre novas fissuras detectadas no sopé da gigante geleira Thwaites da Antártica, sugerindo que ela pode se romper nos próximos cinco anos, derretimento que traria implicações significativas para os níveis globais do mar ao longo do século.Por que isso importa?
A ação climática está ganhando impulso. Desde o Acordo de Paris em 2015, os países intensificaram as medidas climáticas, e muitos se comprometeram a zerar as emissões líquidas até 2050. Isso significa que qualquer emissão adicional de carbono será integralmente compensada pelas emissões retiradas da atmosfera.
Contudo, o orçamento de carbono – o volume máximo de emissões permissível – para limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C está se esgotando rapidamente. Desastres mais frequentes e intensos, declínio na produtividade agrícola e elevação do nível do mar se tornarão cada vez mais comuns se esta meta crucial não for alcançada.
Uma previsão pessimista do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) divulgada em agosto indica que, se a temperatura média global subir mais de 1,5° C nos próximos anos, haverá aumento de chuvas extremas e de inundações em todas as regiões da Europa, com exceção da área do Mediterrâneo. O nível do mar também irá aumentar, com a projeção de que essas mudanças sejam acentuadas após o ano de 2100.
Se a temperatura global subir 2° C ou mais até meados do século, a previsão é de aumento das secas nas áreas agrícolas e ecológicas da Europa Ocidental.
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