A China é hoje o maior parceiro comercial de Taiwan e responde por quase 30% do comércio saído da ilha – mesmo em meio a conflitos e ameaças sutis de reanexação. Nos negócios, os impasses territoriais e culturais ficam de lado, embora as rusgas entre o Partido Comunista Chinês e a chamada “província rebelde” tenham se intensificado no último ano.
Um levantamento do think tank CFR (Council of Foreign Relations), aponta que as transações bilaterais foram da ordem de US$ 150,5 bilhões em 2018, crescimento de quase quatro vezes em 20 anos.
Taiwan começou a investir na China ainda na década de 1970, após a implementação de uma série de reformas que miravam a abertura econômica do país e capitaneadas pelo então presidente Deng Xiaoping.
Apesar da disputa sobre o conceito de “Uma só China”, que na prática nega independência e autonomia à ilha, os atritos não foram levados à mesa de negociação comercial. Beijing e Taipé permitem bancos, seguradoras e outros provedores de serviços financeiros um do outro nos dois mercados.
Outro exemplo dessa pujança econômica é o número de voos diretos, que atingiu 900 por semana em 2015 ante 270 apenas seis anos antes. Também foram assinados mais de 20 pactos como o ECFA (Acordo-Quadro de Cooperação Econômica), em 2010, que visava remover as barreiras de comércio no Estreito de Taiwan.
Em consequência, grandes corporações taiwanesas se beneficiaram dos laços com a China continental, mesmo que à custa de crescentes preocupações a respeito da segurança nacional.
Esforço além da China
Os benefícios econômicos gerados pela China, porém, passam longe de ser o objetivo primordial de Taiwan, que tem sua autonomia como demanda histórica. Ao pisar na ilha pela primeira vez, no século 17, os colonizadores chineses da etnia han – em especial comerciantes – já fugiam de perseguições no continente.
Anexado pela dinastia Qing ao final de 1600, o território acabou cedido ao Japão em 1895, após o tratado que encerrou a Guerra Sino-Japonesa. Tóquio governou a ilha como colônia até 1949, quando as forças militares de Chiang Kai-shek – então líder da República da China – tomaram Taiwan após perder a guerra civil para os comunistas.
Desde então, partidos majoritários como o Kuomintang (KMT) sempre defenderam o não pertencimento da ilha à China. Em 1992, houve uma espécie de consenso entre o governo comunista e o KMT, então à frente de Taiwan, que prometeu não buscar a independência. Ao subir ao poder e derrotar o KMT em 2016, porém, a atual presidente da ilha, Tsai Ing-wen, rejeitou esse acordo.
Desestabilização
Líder do DPP (Partido Democrático Progressista), Tsai já declarou que a estrutura de “um país, dois sistemas”, proposta por Beijing, é “inaceitável”. A posição seria uma resposta à postura nacionalista do mandatário chinês Xi Jinping, que, desde a sua posse, em 2012, aumentou o cerco sobre as regiões de Hong Kong, Tibete, Xinjiang e Taiwan.
A relutância da governante em aderir ao Consenso de 1992 também fez com a China restringisse o turismo à ilha e pressionasse corporações globais a listar o território como uma província chinesa. Enquanto isso, líderes taiwaneses buscam diversificar relações diplomáticas no exterior, caso da aproximação da ilha com os EUA durante o governo do ex-presidente Donald Trump.
Em 2020, foi a primeira vez que um funcionário de alto escalão de Washington visitou Taipé em 41 anos. O secretário de Saúde de Donald Trump, Alex Azar, se encontrou com Tsan Ing-wen em meio a ameaças da China, em agosto.
Apesar dos esforços de Taiwan, o crescente poderio chinês fez com que muitos países abrissem mão das relações com Taipé e se voltassem a Beijing em busca de auxílios e promessas de investimento. Hoje, apenas 15 nações mantêm laços diplomáticos formais com a ilha.
Diversificação
Taiwan tenta driblar a dependência total do continente por meio de novas parcerias comerciais e pactos de livre comércio, incluindo um acordo com a Nova Zelândia em 2013. Já a China vem usando a chamada “diplomacia das vacinas” para pressionar países como a Guiana e a República Dominicana a encerrar relações bilaterais com os taiwaneses.
Apesar de 2020 ter sido um ano atípico, a relutância de Taiwan em aderir ao consenso de 1992 e as recentes rusgas entre Beijing e Taipé tendem a reduzir os investimentos mútuos nos próximos anos. Em 2018, último registro disponível, o financiamento de Taiwan no continente já havia sido reduzido pelo quarto ano consecutivo.
O post Taiwan mantém comércio com China mesmo com impasse por autonomia apareceu primeiro em A Referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, evite comentários depreciativos e ofensivos