A violência jihadista, causada por grupos extremistas muçulmanos, cresceu 43% no continente africano em 2020, e bateu o recorde de 4.958 ocorrências ao longo do ano. Os dados são do Africa Center for Strategic Studies, think tank baseado em Washington, nos EUA.
A marca é o ponto mais alto de uma trajetória de alta que começou em 2016 e gerou, no ano da pandemia do novo coronavírus, um total de 13 mil mortes – alta de 30% no ano.
Há pelo menos cinco grandes fronts de violência jihadista no continente: a Somália, o Sahel, a bacia do Lago Chade, Moçambique e Egito. Apenas o último não registrou o que o think tank classifica como “aumento agudo da violência em 2020”.
Aumentaram também os conflitos entre esses militantes e as tropas de Exércitos nacionais, evidenciando uma disposição dos países de lidar com o problema antes que tome partes significativas de território.
A expectativa dos analistas do centro é a de que a violência aumente neste ano, ainda distribuída sobretudo em três regiões: a Somália, a bacia do Lago Chade – fronteira entre Níger, Nigéria, Chade e Camarões – e o Sahel, entre Mali, Burkina Faso e Níger.
Nas duas últimas, observou-se também aumento da ordem de 30% de ataques contra civis.
As áreas mais afetadas em 2020 são, além da bacia do Lago Chade e do Sahel, o norte de Moçambique. A região concentra uma recente, mas grave, crise humanitária gerada pelo avanço de militantes radicais.
Em comum, esses grupos têm a habilidade em diversificar suas fontes de renda por meio do crime organizado, o que lhes garante recursos suficientes para incomodar Exércitos locais, em geral subfinanciados e com problemas crônicos.
Diferenças regionais
O problema gerado por esses grupos em todo o continente não pode ser visto de forma monolítica, apontam os analistas. Há nuances regionais, específicas do contexto e da cultura de cada local, que não podem ser ignoradas.
Na Somália, dois terços dos ataques foram direcionados contra forças de segurança estatais, mais que em todos os outros fronts. Apenas 13% foi direcionado à população civil.
O país perdeu espaço no número de atentados: de metade, na última década, para 35% da atividade de grupos extremistas em 2020.
Também registrou diminuição na violência jihadista o front do Egito, que concentra pequenas operações do EI sobretudo na desértica península do Sinai.
Mas, no norte da África, aponta o levantamento, a expansão do EI foi contida nos últimos sete anos e concentra-se sobretudo na península e de forma isolada nos países do Magreb, como nos desertos de Argélia e Líbia.
No Sinai, a prática mais comum é a de ataques remotos, que incluem minas e bombardeios. Apenas 11% dos episódios foi direcionado contra civis, com 6% das 574 mortes. O número de assassinados diminuiu 35% em relação ao ano de 2019.
Já no Sahel, a tendência é de alta desde 2015 e no último ano, houve crescimento de 40% no número de ocorrências. Foram 1,1 mil ataques em 2020, por grupos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico.
Cerca de um quarto das disputas são entre grupos militantes, que disputam fontes de renda, território e espaço para recrutamento.
A região também é hoje uma das maiores emergências humanitárias do mundo. O conflito já expulsou 1,7 milhão de pessoas de suas casas – 1,1 milhão apenas em Burkina Faso.
A fome também disparou na região. Em Burkina Faso e no Mali, já são três milhões de pessoas vivendo insegurança alimentar grave – ou seja, fome.
Na região do Lago Chade, o aumento no número de episódios de violência jihadista foi de 60%, ou 1,2 mil. Dois grupos predominam ali: o Boko Haram e sua principal dissidência, o Estado Islâmico na África Ocidental. A maior parte dos atentados ocorreu no norte da Nigéria e em Camarões.
Ali, os ataques contra civis são mais frequentes e representaram 32% do total. Foram cerca de dois mil mortos, de um total de 4,8 mil que inclui também tropas de segurança nacionais.
Moçambique teve em 2020 a escalada mais dramática da violência causada pelos extremistas: alta de 120% ante 2019. Foram 427 ocorrências, concentradas no norte do país, rico em gás natural. Os episódios causaram a morte de 1,6 mil pessoas.
O principal grupo ali é o Ahlu Sunnah wa Jama’a, ligado ao EI. Os militantes que geraram a crise humanitária moçambicana operam sobretudo na região de Cabo Delgado, já próxima da fronteira com a Tanzânia.
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