As decisões de países ricos têm grande importância na redução dos efeitos da crise econômica gerada pela guerra na Ucrânia em nações menos avançadas. Foi o que destacou o chefe da seção dos países menos avançados da Unctad (Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento), Rolf Traeger.
Na última semana, a Unctad alertou para a desaceleração da economia global em 1% por conta do avanço nos conflitos no leste europeu. Traeger explicou que medidas como o aumento da taxa de juros e o fim dos estímulos econômicos implementados durante a pandemia afetam a capacidade de recuperação dos países em desenvolvimento.
“O papel desempenhado pelas políticas adotadas pelos países desenvolvidos tem consequências mundiais. Por exemplo, o fato de os Estados Unidos começarem a aumentar as taxas de juros, isso bate direto no serviço da dívida dos países endividados. Então, uma das recomendações é para que os países centrais, ou seja, América do Norte, Europa Ocidental, Japão…, se abstenham de prosseguir nessa trajetória de aumento do nível da taxa de juros”.
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Traeger lembra que os países mais vulneráveis já vivem em cenário fragilizado há mais de dois anos e que as populações mais pobres, tanto em nações menos avançadas como em países desenvolvidos, são as mais afetadas pela situação macroeconômica, especialmente a alta no preço dos alimentos.
“O primeiro impacto e o mais brutal dessa crise foi o aumento no preço dos alimentos. O que acontece com as camadas de renda mais baixa da população, de qualquer país, é que eles dedicam uma parte muito importante da renda da família na aquisição de alimentos. Como já teve o impacto imediato sobre o preço de alimento, isso vai bater imediatamente no orçamento das famílias pobres. Tem que pensar que em 2022 o nível internacional do preço de alimentos medido pela FAO é o mais alto desde 1971”, disse Traeger
O alerta da Unctad é para possíveis instabilidades geradas em decorrência da alta dos preços e escassez de alimentos. Citando as crises de 2008 e 2011, Rolf Traeger lembra que foi também o momento de diversas manifestações pelo mundo, como a Primavera Árabe.
Para ele, o problema pode ser agravado pela falta de insumos agrícolas largamente exportados por Rússia e Ucrânia, como os fertilizantes, o que deve gerar um impacto na produção da safra corrente e na disponibilidade de alimentos para o próximo ano.
África
Destacando outra diferença na recuperação econômica entre os países de alta e baixa rendas, Traeger lembrou que a expectativa era de que o crescimento de nações menos avançadas levasse mais tempo para voltar aos níveis anteriores ao da pandemia de Covid-19. De acordo com o representante da Unctad, a guerra na Ucrânia pode atrasar ainda mais a retomada nestes países.
Sobre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), ele ressaltou que todos já possuíam “sérios problemas de dívida externa”, especialmente Moçambique e São Tomé e Príncipe. Os demais estavam em risco de entrar em crise, e o conflito na Ucrânia aprofunda as dificuldades de reação em lugares como Cabo Verde e Angola.
“Eles vão sofrer o impacto direto do aumento da taxa de juros acoplados aos problemas de redução do nível do comércio internacional e desaquecimento do nível de atividade econômica. Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau não estavam oficialmente em uma situação de crise de dívida, mas tinham problemas. Mesmo com todo o petróleo que Angola exporta, já teve que recorrer ao Fundo Monetário Internacional. A previsão de crescimento a um ritmo muito mais baixo vai afetar a demanda por petróleo e todas as exportações dos países em desenvolvimento”, disse Traeger.
Além de conter a taxa de juros, a Unctad recomenda a cooperação entre Bancos Centrais para evitar o enfraquecimento da moeda de economias menos avançadas e a implementação de medidas mais diversas para conter a inflação em nações desenvolvidas.
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