Logomarcas corporativas e propriedade intelectual (IP) recebem “maior proteção online do que nós, seres humanos”. Quem diz isso é Natalia Kanem, diretora executiva da UNFPA, a agência de saúde da mulher na ONU (Organização das Nações Unidas) que combate a violência de gênero e lançou nesta quinta-feira (2) uma nova campanha de direitos autorais para ajudar a proteger corpos e mentes da violência cibernética.
“É hora de as empresas de tecnologia e legisladores levarem a sério a violência digital”, disse Kanem, que chamou o mundo online de “a nova fronteira para a violência baseada em gênero”. Isso porque, segundo ela, a realidade é que as pessoas não são donas de seus corpos online.
A campanha de direitos autorais destaca que logomarcas corporativos e IPs protegidos por direitos autorais são mais valorizados e melhor protegidos online do que imagens de corpos humanos, que muitas vezes são carregados na Internet sem consentimento e usados de forma maliciosa.
Um símbolo que pode ser adicionado digitalmente a qualquer imagem nos stories do Instagram, visa a responsabilizar legisladores, empresas e indivíduos, ao mesmo tempo em que leva a mensagem de que mulheres, meninas, grupos raciais e minorias étnicas devem ser valorizados e não serão violados online.
Muitos países não possuem leis que tornem a violência online ilegal, deixando qualquer pessoa que tente remover imagens exploradoras de si mesma com poucos direitos legais. É um longo processo para aqueles que tentam fazer valer seus direitos. Entretanto, quando alguém infringe direitos autorais de música ou filme, as plataformas digitais removem o conteúdo imediatamente.
A ONU afirma que os governos aprovaram leis que tornam a violação de direitos autorais ilegal, e as plataformas digitais desenvolveram maneiras de identificar e prevenir o uso não autorizado de material protegido por direitos autorais. Essas mesmas proteções e repercussões também devem se estender aos indivíduos e às suas fotos, afirma a UNFPA.
Nove em cada 10 mulheres relatam que a violência online prejudica sua sensação de bem-estar. Mais de um terço das mulheres afirma que a violência cibernética gerou problemas de saúde mental.
A violência digital inibe a autoexpressão autêntica e impacta adversamente a vida profissional e econômica de pessoas que dependem de espaços online e de mídia social. A violência online silencia as vozes das mulheres, segundo a agência.
De acordo com a Economist Intelligence Unit, uma divisão da revista britânica The Economist, 85% das mulheres com acesso à Internet relataram ter testemunhado violência online contra outras mulheres e 38% a experimentaram pessoalmente.
Além disso, cerca de 65% das mulheres entrevistadas sofreram assédio cibernético, discurso de ódio e difamação, enquanto 57% sofreram abuso baseado em vídeo e imagem e “astroturfing”, em que conteúdo prejudicial é compartilhado simultaneamente entre as plataformas.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News
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