Imagens de satélite reveladas na terça-feira (7) pela empresa de monitoramento geoespacial Maxar mostram intensa movimentação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia, incluindo a Crimeia. O governo ucraniano, por sua vez, afirma que cerca de 90 mil soldados teriam sido deslocados para a região, de acordo com a Radio Free Europe.
Nos últimos dias, fontes da inteligência dos Estados Unidos afirmaram que a Rússia está na iminência de invadir a Ucrânia, e para isso poderia ampliar sua presença militar para até 175 mil tropas. Com base nesses dois números, está já é uma das maiores movimentações militares russas em direção à Ucrânia em anos, à parte os exercícios militares regularmente programados e previamente anunciados.
A tensão crescente, inclusive, foi o principal tema de uma conversa por vídeo entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin, na terça (7).
“O presidente Biden expressou as profundas preocupações dos Estados Unidos e de nossos aliados europeus sobre a escalada de forças da Rússia em torno da Ucrânia e deixou claro que os EUA e nossos aliados responderiam com fortes medidas econômicas e outras no caso de escalada militar”, diz um comunicado publicado pela Casa Branca logo após a conversa entre os dois líderes.
O texto diz, ainda, que Biden “reiterou seu apoio à soberania e integridade territorial da Ucrânia e pediu a redução da escalada e um retorno à diplomacia”. Os ataques cibernéticos empreendidos por hackers russos, acusados de atuarem a serviço do Kremlin, também estiveram em pauta na chamada por vídeo, bem como questões ligadas ao Irã.
“175 mil não é o bastante”
Na segunda-feira (6), em entrevista à rede norte-americana CNN, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, afirmou que a situação militar atual é bem diferente daquele de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia sem maiores resistências por parte das forças armadas da Ucrânia.
“Não acredito que a Rússia terá uma vitória na Ucrânia. É diferente. Será um massacre realmente sangrento, e os russos também voltarão em caixões”, disse o ministro, que analisou a projeção norte-americana para o envio de tropas russas. “Cento e setenta e cinco mil não é o bastante para ir à Ucrânia”.
Reznikov também agradeceu o apoio de seus mais fortes aliados, mas disse que ele deve se resumir à infraestrutura de guerra. “O mundo civilizado reagiria, sem nenhuma hesitação. Mas não precisamos de soldados norte-americanos ou canadenses lutando pela Ucrânia. Lutaremos sozinhos. Só o que precisamos é de modernização de armamentos e de equipamento bélico eletrônico”.
Por que isso importa?
A tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.
Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.
Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.
Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.
Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin.
Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam a Ucrânia pela Crimeia e por Belarus, com potencialmente cem mil soldados. A Ucrânia estima um contingente de 90 mil soldados de Moscou prontos para atacar, enquanto a inteligência norte-americana fala em 50 mil.
Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.
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