Os governos de Uganda e da República Democrática do Congo (RDC) decidiram unir forças para combater um inimigo em comum: a ADF (Frente Democrática Aliada, na sigla em inglês). O grupo extremista, que se diz associado ao Estado Islâmico (EI), é uma peça cada vez mais importante no tabuleiro geopolítico africano, onde a violência de grupos armados não para de crescer e colocou em alerta as grandes potências ocidentais. As informações são da agência catari Al Jazeera.
Na terça-feira (30), tropas de Uganda entraram na RDC como parte da operação conjunta contra a ADF. Os dois países disseram que a coalizão bombardeou instalações da organização jihadista com artilharia e ataques aéreos. A porta-voz do exército de Uganda, Flavia Byekwaso, disse em um comunicado que “os alvos foram atingidos com precisão”.
No Twitter, o porta-voz do governo da RDC, Patrick Muyaya, reforçou a cooperação entre os governos. “Conforme anunciado, as ações direcionadas e concertadas com o exército de Uganda começaram hoje com ataques aéreos e fogo de artilharia de Uganda contra as posições de terroristas da ADF na RDC”.
#RDC : Comme annoncé, les actions ciblées et concertées avec l’armée ougandaise ont démarré aujourd’hui avec des frappes aériennes et des tirs d’artillerie à partir de l’Ouganda sur les positions des terroristes ADF en RDC. https://t.co/g1WGMatEZQ
— Patrick Muyaya (@PatrickMuyaya) November 30, 2021
Origens da ADF
A ADF foi formada em 1995 por uma coalizão de forças rebeldes, com o objetivo de lutar contra o governo de Yoweri Museveni, que preside Uganda desde 1986. O grupo se estabeleceu inicialmente no oeste do país, antes de migrar para a RDC e de receber apoio do governo do Sudão, que também fazia oposição ao líder ugandês.
Jamil Mukulu, principal líder da ADF, nasceu cristão e se converteu ao islamismo dentro da doutrina salafista, um movimento ortodoxo, internacionalista e ultraconservador dentro do islamismo sunita. Depois de estudar na Arábia Saudita, ele retornou a Uganda e formou o grupo extremista com o objetivo de ali estabelecer um Estado Islâmico.
De acordo com a Igreja Católica de Uganda, a ADF é responsável pela morte de cerca de seis mil civis desde 2013, enquanto o monitor americano Kivu Security Tracker (KST) culpa o grupo por mais de 1,2 mil mortes somente na área de Beni desde 2017. Entre as principais acusações contra os extremistas pesa o recrutamento forçado de crianças para atuarem como soldados ou terroristas suicidas.
Embora a organização tenha declarado publicamente ser um braço do EI, que chegou a assumir responsabilidade por alguns de seus ataques, um relatório divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) afirma não haver evidências de apoio direto à ADF por parte do grupo terrorista baseado no Iraque e na Síria.
Mais recentemente, o grupo passou a se autodenominar Madina em Tauheed Wau Mujahideen (MTM, ou Cidade do Monoteísmo e Guerreiros Sagrados).
Violência na África
A África tornou-se o principal palco dos jihadistas, em meio a ações antiterrorismo globais que enfraqueceram os dois principais grupos terroristas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda. Na tentativa de manter a relevância, essas organizações têm investido em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
Na África, EI e Al-Qaeda conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões do continente é alarmante e pode marcar a retomada de força global dessas duas organizações, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.
Por que isso importa?
A ADF é acusada de matar milhares de pessoas desde 2014, a maioria em áreas remotas. Em junho, 57 pessoas foram assassinadas pelo grupo em vilarejos da Rd Congo. Os extremistas entraram para a lista de terrorismo dos EUA em março deste ano, classificados como terroristas.
Em maio deste ano, presidente congolês Felix Tshisekedi decretou estádio de sítio após dois anos de intensa violência. Mas a decisão foi infrutífera. Desde então, a atuação das milícias tem se intensificado, segundo dados da organização Kivu Security Tracker, que mapeia a violência na região.
No Brasil
Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.
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