Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site Eurasianet
Por Lucas Webber
Desde sua fundação, em 2014, o Estado Islâmico (EI) sempre foi hostil à China. A bem documentada repressão chinesa aos uigures e a outros muçulmanos em Xinjiang aparece frequentemente na propaganda do EI, especialmente no sul da Ásia. Isso coloca o Taleban em uma posição incômoda.
Buscando legitimidade internacional e financiamento, o Taleban está cultivando cuidadosamente a China. Beijing retribui, convidando funcionários do Taleban a visitar o país várias vezes desde 2014. Em julho passado, antes que Cabul caísse nas mãos do Taleban, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, recebeu calorosamente os líderes do grupo, dizendo-lhes esperar que “tratem resolutamente” com militantes uigures no Afeganistão.
Agora, os uigures afegãos dizem que estão sendo perseguidos pelo novo governo do Taleban, aparentemente por ordem de Beijing.
Essa é uma boa notícia para os recrutadores do EI que exploram os laços da China com o Taleban para desacreditar o grupo, chamando-o de traidor do Islã por negociar com os -norteamericanos e não defender os muçulmanos de Xinjiang.
Nos últimos meses, a facção afiliada ao EI no Afeganistão, o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), usou ataques de alto perfil, pelo menos um reivindicado por uma etnia uigur, para se nomear como o novo líder da jihad afegã.
Beijing ficou chocada quando o EI-K afirmou que um homem-bomba uigur chinês foi responsável pela carnificina em uma mesquita xiita em Kunduz que matou pelo menos 50 pessoas em 8 de outubro. A agência de notícias Amaq, do EI, identificou o perpetrador como sendo Muhammad al-Uyghuri e trovejou que “o Taleban se comprometeu a expulsar [uigures] a pedido da […] China”.
The Voice of Hind (A Voz de Hind, em tradução literal), uma revista em inglês publicada por um ramo do EI na Índia, celebrou o atacante como “um cavaleiro de Alá da China” e criticou o Taleban por supostamente jurar proteger estátuas budistas a mando da China.
Os propagandistas do EI que esperam demonizar a China provavelmente encontram solo mais fértil para seus esforços no Sul da Ásia do que no Oriente Médio. Os laços históricos da China com os povos da Ásia são mais fortes. Pelo menos desde a época de Mao, os uigures buscaram refúgio no sul da Ásia (e as relações da China com a maior economia do Sul da Ásia, a Índia, são extremamente tensas). Portanto, os militantes da região foram capazes de fazer críticas mais matizadas a Beijing do que o que é produzido no Oriente Médio.
Após uma reunião entre oficiais chineses e talibãs em Doha, em 26 de outubro, simpatizantes do EI no Telegram desprezaram o contato, chamando os talibãs de “prostitutas” que vão a Beijing em busca de reconhecimento oficial. Alguns canais divulgaram fotos do evento, retratando um vídeo do Ministro das Relações Exteriores Amir Khan Muttaqi apresentando pinhões ao Ministro das Relações Exteriores Wang e novamente acusando o Taleban de trair os muçulmanos da China.
A Khalid Media, ligada ao EI-K, e outras afiliadas, como a Asawirti Media, bem como apoiadores individuais em aplicativos de mensagens, frequentemente destacam imagens de encontros do Taleban com autoridades chinesas, norte-americanas e russas.
Em uma de suas edições, A Voz de Hind prometeu “vingança” contra a China por “prender os muçulmanos em massa”, jurando nunca deixar Beijing “apagar a luz do Islã na China”. Em setembro, descreveu a China como uma “potência imperialista”, e uma edição subsequente disse que o Taleban “lambe as botas dos cruzados e agora da Rússia e da China também”.
Este esforço anti-China não é novo. No início, de sua base no Iraque e na Síria, o EI divulgou vídeos de combatentes uigures ameaçando Beijing, traduções uigures de sua propaganda e até um canto em mandarim. Agora, Beijing enfrenta um blowback muito mais perto de casa.
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