A chegada do inverno no Afeganistão leva milhões de pessoas a passarem fome no país, e são necessários US$ 2,6 bilhões para levar ajuda humanitária a toda a população em situação de necessidade. Diante desse cenário, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) pediu nesta quinta-feira (2) que a comunidade internacional deixe a política de lado e aumente o apoio para evitar uma catástrofe.
As necessidades humanitárias no país aumentaram, disse a agência da ONU (Organização das Nações Unidas), com todas as 34 províncias enfrentando crises ou níveis de emergência de insegurança alimentar. Como resultado, cerca de 23 milhões de afegãos precisam de assistência alimentar urgente, um número nunca visto antes. Isso inclui mais de três milhões de crianças que correm o risco de sofrer de fome severa e as consequências fatais da desnutrição.
“A comunidade internacional tem preocupações muito reais. Neste momento, precisamos separar o imperativo humanitário das discussões políticas”, disse Mary-Ellen McGroarty, diretora do PMA para o Afeganistão. “O povo afegão, que teve suas vidas destruídas sem culpa própria, não pode ser condenado à fome e à inanição apenas por causa da loteria da geopolítica e da loteria de nascimento”.
Visitas a áreas remotas do país revelaram a difícil situação dos cidadãos em meio aos impactos de uma prolongada seca, colapso econômico e a pandemia de Covid-19, que se seguem a anos de conflito e a consequente tomada do país pelo Taleban em agosto.
O aumento do custo do trigo resultou em um aumento de 80% no preço do pão. Um custo alto demais para famílias com poucos recursos vivendo em um país com limitadas fontes de riqueza, afetado ainda por uma economia em frangalhos, pelas taxas galopantes de desemprego e pelas sanções internacionais.
Em algumas áreas, as pessoas compensam consumindo uma variedade de trigo que pode causar problemas neurológicos. Muitos sobrevivem com pão e chá com leite, às vezes até usando um branqueador não nutricional, quando não podem comprar o produto real.
Na cidade de Faizabad, no norte, por exemplo, diretores de escolas, professores e funcionários do governo estão entre os residentes que agora vendem objetos pessoais como xícaras de chá, rolos de pintura e roupas nas ruas.
Depois de quase dez anos, a equipe do PMA agora pode acessar a vila de Aqkoprok, localizada várias horas ao sul do centro regional de Mazar-i-Sharif. Embora os alunos estejam de volta à escola, a maioria dos professores não recebe desde julho. O PMA relatou que a região viu um aumento de 30% na desnutrição severa e moderada desde outubro. situação que se reflete em todo o país.
Os pais em Aqkoprok têm levado seus meninos e meninas a uma clínica de saúde para fazerem o teste de desnutrição, onde são examinados pelo Dr. Mustafa. “Eles não têm nada”, disse o médico. “Eles vendem seus móveis, vendem seus animais. A maioria deles vende suas casas para comprar comida. Mas agora eles não têm mais nada para vender e então comprar comida”.
Situação tende a piorar
Embora o número de pessoas no Afeganistão que precisam de assistência seja “impressionante”, a McGroarty teme que este seja apenas o ponto de inflexão. São as crianças que “pagam um preço incrível”, disse ela.
“Estamos apenas em novembro, e é isso que já estamos vendo antes de entrarmos no auge do inverno? E essas são as crianças que estão chegando aos hospitais. Quantos mais estão atrás deles, que suas famílias não conseguem trazê-los para o hospital?”, questiona
Mahmoud, 17, estava entre as pessoas em um local de distribuição de alimentos do PMA em Mazar-i-Sharif na semana passada, acompanhado por sua mãe e irmão. Seu pai está morto, e a mãe está ficando cega.
O adolescente sonhava se tornar médico, mas o colapso econômico o impede de estudar e acabou com o sonho. Depois que seu irmão migrou para o Irã em busca de trabalho, Mahmoud foi deixado para cuidar de sua mãe e do irmão mais novo.
“Talvez seja diferente para outros países”, ele se perguntou. “No Afeganistão, as pessoas só trabalham por comida e só querem encontrar comida para comer e não pensam em outra coisa. Elas apenas pensam em como encontrar comida e como abastecer e trazer comida para seus filhos e para suas esposas”, diz ele.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News
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