Imagens de satélite divulgadas no início desta semana pela empresa Maxar sugerem que a China construiu maquetes de navios de guerra norte-americanos no deserto de Taklamakan. Como as réplicas em tamanho real foram erguidas em um complexo usado para testes de mísseis balísticos, é possível que sirvam para o exército chinês treinar disparos de olho em um eventual conflito no mar, segundo o site The Defense Post.
A iniciativa reforça as suspeitas de que Beijing trabalha para melhorar a capacidade de seu exército combater embarcações militares, com vistas a uma eventual agressão a Taiwan. Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma no ano passado.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo da ilha, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra”. As maquetes e os possíveis testes balísticos contra embarcações são mais um passo nesse sentido.
Segundo a empresa de inteligência geoespacial AllSource Analysis, a criação das maquetes e a integração de outros equipamentos de alta tecnologia podem ser uma forma de a China fortalecer sua capacidade de localização e enquadramento de alvos, com vistas a um combate no mar. Embora os testes no deserto não reflitam as condições exatas de uma batalha marítima, eles são mais seguros porque os inimigos não podem acompanhá-los.
Nos últimos anos, a China tem trabalhado no desenvolvimento de mísseis de alta potência que podem ser usados contra navios de guerra inimigos em caso de conflito. O míssil balístico DF-21D, baseado em terra e apelidado de “matador de porta-aviões”, tem alcance de até 1,55 mil quilômetros e já foi testado no mar contra um navio do tamanho de um porta-aviões americano contemporâneo.
“Em julho de 2019, o [Exército de Libertação do Povo] conduziu seu primeiro lançamento de fogo real confirmado no Mar da China Meridional, disparando seis mísseis balísticos antinavio DF-21D nas águas ao norte das Ilhas Spratly”, disse o pentágono em seu mais recente relatório anual sobre as forças armadas da China.
Por que isso importa?
O fortalecimento militar chinês gera preocupação entre os norte-americanos e é assunto de interesse global devido à questão de Taiwan. Recentemente, um oficial de defesa dos EUA que prefere não se identificar afirmou que o crescimento do arsenal chinês pode forçar a ilha a abandonar suas aspirações de soberania e definitivamente se colocar sob o domínio do Partido Comunista Chinês (PCC). Como os EUA são o principal aliado militar de Taiwan, uma ação de Beijing nesse sentido poderia desencadear um conflito entre as duas superpotências.
Em caso de guerra, a supremacia militar dos EUA não é uma garantia, considerando o alto investimento da China no setor. Analistas e líderes militares ouvidos pela rede norte-americana Voice of America (VOA) afirmam inclusive que Beijing pode superar os Estados Unidos como mais poderosa força aérea do mundo na próxima década.
Em setembro, durante uma conferência militar, o general Charles Brown Jr., chefe do Estado-Maior da força aérea norte-americana, qualificou o exército chinês como detentor das “maiores forças de aviação do Pacífico”. E disse que o posto foi alcançado “debaixo de nosso nariz”, sem uma resposta à altura. Mais: ele projetou que a China pode assumir a supremacia aérea militar global em 2035.
No mesmo evento, o tenente-general S. Clinton Hinote manifestou opinião semelhante e advertiu que os EUA não acompanham os avanços da China. “Em algumas áreas importantes, estamos atrasados. E falo ‘nesta noite’. Esse não é um problema de amanhã. É de hoje”. Posteriormente, em conversa privada com jornalistas, reforçou a opinião de que os chineses já igualaram os avanços tecnológicos norte-americanos no setor.
O arsenal nuclear da China também tem aumentado num ritmo muito maior que o imaginado anteriormente, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação aos Estados Unidos nessa área. Relatório recente do Pentágono sugere que Beijing pode atingir a marca de 700 ogivas nucleares ativas até 2027, tendo a meta de mil ogivas até 2030.
Por ora, o poder de fogo nuclear da China não se compara ao dos Estados Unidos, que têm cerca de 3,8 mil ogivas e não planejam ampliá-lo. Na verdade, o arsenal norte-americano foi drasticamente reduzido nos últimos anos, considerando que em 2003 eram cerca de 10 mil dispositivos ativos. Porém, se mantiver o projeto de longo prazo, a China planeja igualar ou mesmo superar tais números até 2049.
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