Rússia e Ucrânia voltaram a trocar acusações após o fracasso da proposta de cessar-fogo em Donbass, no leste ucraniano, onde separatistas apoiados por Moscou enfrentam as tropas de Kiev. O acordo diplomático ruiu na quinta-feira (9), em meio à escalada de tensão entre os dois países e ao aumento de tropas russas perto da fronteira. As informações são da agência Reuters.
O governo da Ucrânia alega que o acordo fracassou porque Moscou se negou a acatar algumas das condições impostas, como a troca de prisioneiros, a reabertura de um posto de controle e a expansão de um centro de comunicações conjunto. A Rússia, por sua vez, alega que as propostas feitas por Kiev eram “absurdas”.
“Infelizmente, todas as iniciativas do lado ucraniano foram rejeitadas pela Federação Russa sob pretextos forçados”, diz um comunicado da delegação da Ucrânia enviado ao Grupo de Contato Trilateral (TCG, da sigla em inglês), que também inclui a Rússia e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, da sigla em inglês).
A Rússia sugeriu a inclusão de Alemanha e França no debate para estabelecer o cessar-fogo, mas ainda assim não houve acordo com a Ucrânia. E não está claro ainda se haverá uma nova rodada de negociações. “As negociações para um acordo pacífico praticamente chegaram a um beco sem saída”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.
Diante desse cenário, Moscou comparou o atual momento da relação entre com a Ucrânia ao período mais delicado da antiga Guerra Fria e disse aguardar uma proposta do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para uma negociação que envolvesse também a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Movimentação militar
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusa a Ucrânia de enviar artilharia pesada para a enfrentar as forças separatistas. O presidente Vladimir Putin chegou a classificar como “genocídio” a ação de Kiev em Lugansk e Donetsk, as repúblicas autodeclaradas que compõem Donbass.
“Devo dizer que a russofobia é o primeiro passo para o genocídio”, disse o líder russo em uma reunião do conselho presidencial, segundo o jornal independente The Moscow Times. “Você e eu sabemos o que está acontecendo em Donbass. Certamente parece um genocídio”.
Na quinta-feira (9), a FSB (Agência Federal de Segurança, da sigla em inglês) denunciou a presença de um navio de guerra ucraniano dirigindo-se ao Estreito de Kerch, que separa a Rússia da península anexada da Crimeia. A embarcação não teria reagido aos pedidos russos para mudar seu curso.
Moscou também afirma que sua força aérea foi acionada para escoltar cinco jatos militares franceses e norte-americanos que teriam se aproximado do espaço aéreo russo no Mar Negro, de acordo com o site The Defense Post.
Kiev, por sua vez, sugere que as tropas russas têm aumentado perto da fronteira, onde estariam estacionados cerca de 90 mil soldados. Nos últimos dias, imagens de satélite confirmaram a movimentação militar, e fontes da inteligência norte-americana afirmaram a mobilização de Moscou pode chegar a 175 mil tropas, o suficiente para uma invasão.
Por que isso importa?
A tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.
Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.
Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.
Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.
Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin.
Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam a Ucrânia pela Crimeia e por Belarus, com potencialmente cem mil soldados. A Ucrânia estima um contingente de 90 mil soldados de Moscou prontos para atacar, enquanto a inteligência norte-americana fala em 50 mil.
Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.
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