A Huawei estará presente na infraestrutura de telecomunicações da futura rede 5G do Brasil. O desfecho era previsível, devido à forte presença da empresa no país. Mas faltava uma confirmação oficial das operadoras de telefonia móvel, que veio na quarta-feira (8) através da Tim, segundo o site Mobile Time. Com isso, o país vai na contramão de outras nações ocidentais, que têm excluído a empresa chinesa de suas redes 5G por alegadas questões de segurança.
“Escolhemos os fornecedores dois anos atrás: Huawei e Ericsson. Mas é um processo on going. Vamos começar com esses dois, que são nossos fornecedores atuais, porque o prazo é muito curto. Isso não significa que não analisamos novas oportunidades e novas tecnologias. Há oportunidades com OpenRAN, e outros fornecedores estão chegando”, disse Leonardo Capdeville, CTIO da TIM, em entrevista coletiva virtual na quarta (8).
A presença da Huawei na infraestrutura de telecomunicações brasileira é enorme. Por exemplo, são da empresa mais de 80% das antenas que retransmitem o sinal das atuais redes 2G, 3G e 4G. Assim, o custo de uma eventual transição para outra companhia seria proibitivo. A aceitação da Huawei também se deve ao fato de a China ser o principal parceiro comercial do país, e uma proibição levaria a sanções de Beijing. A Suécia, por exemplo, baniu a empresa de sua rede 5G, e o consequente boicote à Ericsson imposto por Beijing levou os suecos a reduzirem suas operações no país asiático.
No Brasil, a alternativa encontrada pelo governo, a fim de reduzir o impacto de eventuais brechas de segurança, foi a criação de uma rede 5G governamental exclusiva, sem a presença de infraestrutura chinesa. “Hoje, a Huawei não está apta a participar da rede privativa, segundo o que foi colocado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pela nossa portaria”, disse o ministro das Comunicações Fábio Faria no início de novembro, quando foi realizado o leilão das bandas de 5G.
Questão de segurança
A pressão para excluir totalmente a Huawei da quinta geração de internet móvel partiu dos Estados Unidos, que usam como argumento a Lei de Inteligência Nacional da China. A normativa legal, instituída em 2017, diz que as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar no trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar a gigante da tecnologia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).
Em sua defesa, a companhia alega que nunca recebeu qualquer ordem de espionagem e que “se recusaria categoricamente a obedecer” se isso ocorresse. “Nunca comprometeríamos ou prejudicaríamos qualquer país, organização ou indivíduo, especialmente quando se trata de segurança cibernética e proteção da privacidade do usuário”, segundo a rede britânica BBC.
Em agosto deste ano, o Brasil recebeu a visita de Jake Sullivan, consultor nacional de segurança dos EUA. À época, ele manifestou preocupação com a presença da Huawei na rede 5G do país. “Continuamos preocupados com o papel potencial da Huawei na infraestrutura de telecomunicações do Brasil”, disse na ocasião Juan Gonzalez, diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para o Hemisfério Ocidental, segundo a agência Reuters.
Douglas Koneff, embaixador interino dos EUA no Brasil, disse em outubro que Washington tem “fortes preocupações sobre o potencial papel da Huawei na infraestrutura de telecomunicações. Não somente no Brasil”. E destacou países seguem a mesma linha: “Reino Unido, França, Suécia, Índia, Austrália, Canadá e Japão já chegaram à mesma conclusão”, disse ele, acusando a empresa de ter um “histórico de comportamento antiético, ilegal e inadequado, incluindo roubo de propriedade intelectual”.
Em agosto, Portugal havia seguido o mesmo caminho, excluindo a Huawei de suas redes. A medida, no entanto, não partiu do governo português, e sim das três empresas dominantes no mercado de telefonia móvel, NOS, Vodafone e Altice. Juntas, as companhias optaram por não utilizar a tecnologia chinesa. As empresas, no entanto, deixaram suas portas abertas para a utilização da Huawei em partes não essenciais da estrutura do 5G.
Nesta quarta (8), quem também confirmou a exclusão de tecnologia chinesa na rede 5G foi a Índia, embora a empresa não tenha sido citada nominalmente. “Sem anotar o nome de nenhuma empresa em particular, gostaria de dizer que qualquer aquisição que tenha acontecido para 5G está acontecendo sob o regime de fontes confiáveis”, disse Ashwini Vaishnaw, ministro das Comunicações indiano, segundo o jornal local The Economic Times.
“Avançamos na curva e realmente decidimos ter um regime de fonte confiável, em que equipamentos e sistemas de componentes que compramos dentro do país, para uso no país, serão adquiridos apenas de fontes confiáveis”, reforçou Vaishnaw.
Por que isso importa?
No 5G, que se tornou ferramenta de pressão geopolítica, os riscos de segurança são mais elevados. Isso porque a nova tecnologia incorpora softwares responsáveis por processar dados pessoais e outras informações confidenciais. Além disso, a maior velocidade e a possibilidade de receber mais conexões simultâneas, em comparação com a rede 4G, tornam a nova tecnologia ideal para ser usada em uma infinidade de atividades corriqueiras.
“Todos nós sabemos que o 5G, em comparação com as gerações anteriores de tecnologias de comunicação, tem as três características: grande largura de banda, baixa latência e conexões massivas”, disse Guo Zizhong, diretor da Divisão de Negócios de Hospital Inteligente da Huawei na China, em entrevista à rede norte-americana ABC News.
A tendência é a de que bilhões de novos produtos fiquem online num futuro próximo, tornando inúmeras ações cotidianas dependentes da internet. Portanto, a nova rede 5G passaria a gerenciar, por exemplo, hospitais, automóveis, órgãos governamentais, residências e, claro, as forças armadas.
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